Durante aquelas manifestações do meio do ano que sacudiram o País, comentava com algumas pessoas um temor: de quem num futuro não muito distante, esses atos deixem de ser esporádicos e se tornem cotidianos. Tal prenúncio realmente ocorreu. Atualmente, vemos protestos das mais diversas naturezas interferirem no dia a dia de uma centena de milhares de pessoas. De antemão, quero dizer que não sou contra isso. Pelo contrário, vivemos numa democracia onde todos têm direito a se fazer ouvir quando o Governo não atende demandas básicas do cidadão, como saúde, educação e moradia.
Sei também que as autoridades só lembram daqueles que vivem situações de extrema dificuldade na época da eleição. Eleito ou não, esquecem daqueles que vivem nas franjas das cidades, sejam elas grandes ou pequenas. Porém, as passeatas diárias ganharam proporções e novos adeptos. Saiu a sociedade civil, cansada de usurpada pelo poder há décadas, e chegaram os tais black bloc, que de maneira fugaz se espalharam pelas principais cidades.
São esses sujeitos, desprovidos de senso cívico, que não se importam com aquilo que é da sociedade: o orelhão, a lixeira, o ônibus. Nem com o que é privado: o banco, o carro, o imóvel. E o grupo ganha volume a cada protesto, pois seus "mentores" passam impunemente pela Lei. Não é arrebentado a pontapés a porta do metrô ou pichando e depredando um edifício qualquer que o salário do professor vai aumentar, que a fila no posto de saúde vai diminuir e que outras necessidades alarmantes da sociedade serão resolvidas do dia para a noite.
Se as pessoas que protestam por algo que lhes falta tiverem a única intenção de se fazer ouvir, na próxima ocasião deveriam impedir, barrar, essa corja, que nem coragem tem para mostrar a própria face. Se tivesse, certamente mudaria a cara do Brasil e faria valer a frase na Bandeira Nacional: "Ordem e Progresso". Pois, o que se vê nos dias atuais, é justamente o contrário. Apesar das boas intenções da sociedade.