segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A importância social do rolezinho

Li no portal G1 uma declaração dada pelo presidente da Associação de Lojistas de Shopping Centers, o senhor Nabil Sayhoun. “A Prefeitura tem que arrumar um espaço para [que] o pessoal pare de ficar importunando a vida de consumidor que quer comprar com tranquilidade e para o comerciante poder trabalhar. Toda a sociedade está contra esse tipo de encontro”. Esse é um exemplo de uma pessoa que perdeu a chance de se calar.

O tal Nabil se referiu ao encontro da molecada no shopping, esse rolezinho aí, que está em tudo quanto é jornal. Numa primeira visão sobre isso, achei que era uma perda de tempo martelar esse prego e disse a uma amiga que não passava de uma idiotice juvenil. E não é.

O que diferencia a aglomeração de adolescentes em centros de compra da reunião de calouros universitários no mesmo local? Basta fazer uma célere busca no youtubo que você achará alguns videos onde centenas de jovens se aglomeram no shopping e por lá ficam, cantam, bebem, comem... Ou ainda, qual a diferença disso para àquela peruada que rola no centro de SP todo ano, organizada pelo pessoal da faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde milhares se juntam, marcham pelas ruas, comem, bebem....

Só porque são egressos no ensino superior e, majoritariamente, de cor branca, esses moços e moças não causam transtorno ao local? Seus gritos não incomodam quem deseja comprar um vestido de 300 paus ou uma jaqueta de 400? Nas imagens não vi nenhum lojista baixando as portas, porque será hein?

Essa questão do rolezinho lembra à da estação de Metrô da Linha 4-Amarela em Higienópolis. A associação de moradores do bairro era contra, e o ápice ocorreu quando uma moradora disse que a parada iria atrair uma "gente diferenciada". É bem isso que acontece agora, só que num centro de compras.

Discordo daqueles que pensam que o encontro da molecada é só para promover a arruaça. Se fosse assim, não iriam construir shopping em Itaquera, no Campo Limpo, em Taboão da Serra e em outros locais afastados dos grandes centros financeiros, pois estes já estariam totalmente pichados e depredados, seguindo a lógica da direita-conservadora-hipócrita-boçal reinante neste país.

É desagradável para a classe alta ver alguém que está na base da pirâmide social frequentar o mesmo local que ela. Não vamos ser hipócritas não. É constrangedor para eles sim. Daí essa mobilização dos centros de compras situados em bairros nobres em restringir o acesso e circulação da garotada da "quebrada". Aí, um vai me dizer que há risco de roubo, furto e outros atos de vandalismo (palavra da moda atualmente). Porém, se esquece que lá no topo da estrutura também há aqueles que furtam, roubam ou quebram.

Em suma, é segregação social mascarada de preocupação material.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A falta de senso dos manifestantes sem causa

Durante aquelas manifestações do meio do ano que sacudiram o País, comentava com algumas pessoas um temor: de quem num futuro não muito distante, esses atos deixem de ser esporádicos e se tornem cotidianos. Tal prenúncio realmente ocorreu. Atualmente, vemos protestos das mais diversas naturezas interferirem no dia a dia de uma centena de milhares de pessoas. De antemão, quero dizer que não sou contra isso. Pelo contrário, vivemos numa democracia onde todos têm direito a se fazer ouvir quando o Governo não atende demandas básicas do cidadão, como saúde, educação e moradia.

Sei também que as autoridades só lembram daqueles que vivem situações de extrema dificuldade na época da eleição. Eleito ou não, esquecem daqueles que vivem nas franjas das cidades, sejam elas grandes ou pequenas. Porém, as passeatas diárias ganharam proporções e novos adeptos. Saiu a sociedade civil, cansada de usurpada pelo poder há décadas, e chegaram os tais black bloc, que de maneira fugaz se espalharam pelas principais cidades.

São esses sujeitos, desprovidos de senso cívico, que não se importam com aquilo que é da sociedade: o orelhão, a lixeira, o ônibus. Nem com o que é privado: o banco, o carro, o imóvel. E o grupo ganha volume a cada protesto, pois seus "mentores" passam impunemente pela Lei. Não é arrebentado a pontapés a porta do metrô ou pichando e depredando um edifício qualquer que o salário do professor vai aumentar, que a fila no posto de saúde vai diminuir e que outras necessidades alarmantes da sociedade serão resolvidas do dia para a noite.

Se as pessoas que protestam por algo que lhes falta tiverem a única intenção de se fazer ouvir, na próxima ocasião deveriam impedir, barrar, essa corja, que nem coragem tem para mostrar a própria face. Se tivesse, certamente mudaria a cara do Brasil e faria valer a frase na Bandeira Nacional: "Ordem e Progresso". Pois, o que se vê nos dias atuais, é justamente o contrário. Apesar das boas intenções da sociedade.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O espetáculo do "pão e circo"

Foi-se o tempo em que a qualidade na informação e a credibilidade eram os principais quesitos no jornalismo. Felizmente, ainda há lugares - poucos é verdade - cujos pontos citados são tratados como prioridades. Todavia, o modelo atual dos grandes conglomerados opta por aspectos diferentes: o caricato, o show ou o "bom" e barato. Resumindo, o modelo "pão e circo".

Diante dessa crise vivida pelo setor é quase que espontâneo fazer caça às bruxas e apontar o dedo contra quem fez o anúncio do passaralho. Ao ver notícias diárias de cortes e mais cortes de cargos a sensação de "produto descartável" aumenta, e, devido à essa cegueira momentânea, não percebemos o ponto principal de tudo isso.

A tal "marolinha", tão comemorada por Lula  na década passada, enfim se tornou uma onda e atinge diversas atividades econômicas. O jornalismo, logo, não ficaria imune à ela. O "espetáculo do crescimento" refugou igual Baloubet du Rouet na Olimpíada, e o maravilhoso "Pibão" comemorado por Dilma em 2011, ano passado foi de apenas 1,3%, o segundo pior de toda a América Latina, cujo índice médio foi de 2,7%. Mas esse cenário não é exclusivo do Brasil, basta olhar para o outro lado do Atlântico e ver países deverem até as calças e com a economia estagnada há anos. Com isso, a fonte de investimentos fica cada vez mais seca.

Claro que somado a isso tudo estão diversas fórmulas de negócio que não deram certo e ruíram ao longo dos últimos 4, 5 anos. Basta ver o número de programas que entraram e saíram das grades de emissoras de TV e a quantidade de rádios que ou foram vendidas para pastores milionários com a fé alheia ou que conseguiram uma parceria se mantêm na bacia das almas. Infelizmente, quando a conta no final do mês, o lado mais fraco acaba pecando por todos esses erros de gestão.

Bom, e como fazer para recuperar o jornalismo em sua essência? Priorizar aqueles que estudaram e se dedicaram quatro anos nos bancos acadêmicos é uma saída. Mas, esse não vai ser o norte. Pior ainda será ver profissionais de qualidade e credibilidade - os pontos essenciais citados lá em cima - serem sacados e forma sumária. E se juntarem a tantos outros que sequer conseguem uma brecha para entrar. O pão e circo, infelizmente, ainda estará aí com seus Reality Shows, sensacionalismo barato, cultos e tantas outras "atrações".


quarta-feira, 19 de junho de 2013

O dia em que fui para a rua

Às 12h45 do dia de 18 de junho deste ano meu telefone tocou. Meu editor me liga e pede para que eu acompanhe o 6º protesto contra o aumento da tarifa do transporte em SP (se bem que nesta altura do campeonato os atos não ocorrem apenas pelos R$ 0,20). De imediato, achei que iria apenas observar, o famoso "ir lá pra ver como é que é", e aceitei a orientação. Às 15h cheguei na redação do BandNews e já fui bombardeado de instruções. A 1ª foi: assim que você chegar, procura o link da Band, você vai entrar conosco.

Tomei um susto, mas não deixei transparecer que estava assustado. Quando me disseram que eu ia para a Praça da Sé, era para que eu fizesse parte da cobertura que o canal preparou. Eu seria o repórter no local, ou "in loco", como chamamos no jornalismo. Ouvi mais umas dicas e aquele famoso "cuidado lá hein?"

Pausa.

Como tenho tanta coisa a escrever, vou dividir os fatos por tópicos, que não seguem a ordem cronológica dos acontecimentos.

- A passeata
Nunca presenciei um ato desses e quando cheguei na Avenida Paulista e a vi tomada de gente tive que conter as lágrimas, pois estava "no ar" pelo BandNews. Já precisei percorrer a via por diversas vezes, mas ao vê-la ocupada de pessoas tive a prazerosa sensação de estar presente num momento histórico para o Brasil. Pessoas cantando, protestando, pulando, sorrindo em prol de um país melhor. Jovens, adultos, idosos, homens, mulheres, negros, brancos, nipônicos, hispânicos num clima de paz e tranquilidade.

Das marchas que acompanhei na terça-feira não vi nenhum ato de vandalismo. Posteriormente, consegui acesso aos jornais e à internet e observei atos isolados  de vandalismo. Porém, digo de forma enfática: as pessoas que cometeram esses atos NÃO estavam com o objetivo de lutar por um Brasil melhor, e sim de propagar a desordem e a arruaça pelas ruas do centro de São Paulo.

- Viaduto do Chá
Os protestos são compostos por diversos movimentos. Além do MPL, que é o pilar dos atos, exitem outras minorias que estão presentes. Consegui observar bandeiras de diversos grupos, desde entidades estudantis à sindicatos. Uma ala é a dos anarquistas radicais. O grupo é chamado de "Black Blocks". Geralmente, estão vestidos com roupas escuras e o rostos estão cobertos com máscaras ou panos. Aproximadamente 50 pessoas formavam o coletivo, que aproveitou a ausência de um policiamento na frente da prefeitura para tentar invadir a sede do governo municipal. Essas pessoas são as mesmas que forçaram a derribada do portão do Palácio dos Bandeirantes, na segunda-feira.

Quando cinco caras desse grupo tentaram atear fogo na bandeira municipal, houve uma divisão de reações. Muitos aplaudiam. Outros tantos vaiaram de forma ostensiva e começaram a gritar "sem vadalismo". No fim, as bandeiras da Cidade e do Estado foram derrubadas, após o cabo de aço que as prendia no mastro ser cortado. À poucos metros de onde eu estava, pude observar duas pessoas discutindo de forma áspera sobre o que ocorria. Antes que alguém pergunte, quando o carro da Record foi incendiado eu não estava mais lá.

- Consolação
O mais legal que vi ao acompanhar uma parte dos ativistas que subiam a Consolação, para chegar na Paulista, foi que muitas pessoas saudavam a manifestação nas sacadas dos apartamentos ao longo da rua. De imediato aquela multidão agradecia com palmas e cantando. Até alguns clientes que estavam no restaurante Sujinho pararam suas refeições e foram para a calçada aplaudir aqueles que gritavam palavras de ordem. Lençóis brancos e bandeiras do Brasil também eram agitadas nos apartamentos, compondo o clima cívico do ato.

- Momento "Usain Bolt"
19h. Como a manifestação se dividiu em diversos em grupos, decidi acompanhar um que seguiu pelo centro da cidade, passando pelo Largo São Francisco, Rua Libero Badaró, Viaduto do Chá, Rua Direita e retornou à Praça da Sé. De lá, essa parte se encontrou com mais manifestantes e seguiram ao terminal Pq Dom Pedro II e iriam acessar a Avenida Rangel Pestana. No cruzamento dessas duas vias estava conversando com o Nelson Gomes, ao vivo, relatando o que via na região do "Baixo Centro". Ele me interrompeu e começou a narrar a tentativa de invasão ao prédio da Prefeitura. Segui na linha. Depois de um tempo, voltei a falar com a Priscila e com o JP Duarte, que estavam coordenando as minhas entradas. Perguntei se queriam que eu fosse para o Viaduto do Chá, de novo. Disseram que sim, e eu fui.

A pé, uma pessoa leva uns 20 minutos de um local ao outro. Como sabia que não tinha esse tempo, fiz o percurso em 8 minutos. Já sentia um cansaço pois estava andando à duas horas sem parar. Quando cheguei na Prefeitura a primeira coisa que fiz foi tomar um fôlego. Neste momento, pude comprovar que meu preparo físico está aquém do normal.

- Vandalismo
Durante o meu trabalho não presenciei atos de vandalismo, exceto às depredações na sede do governo municipal.

- Orgulho
O derradeiro, mas não menos importante aspecto do meu trabalho, é a satisfação de ter feito, ou tentado fazer, o meu melhor. Contei com a ajuda e com os conselhos de colegas e amigos, e tive sorte da bateria do meu celular ter durado durante as seis horas de caminhada pelo centro desta metrópole equivocada. E agradeço a confiança depositada em mim, numa cobertura de um acontecimento tão grande, que certamente estará nos livros de História das próximas gerações de estudantes. Obrigado.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A Polícia de fato

Está mais do que evidente que os protestos realizados nos últimos sete dias nas principais cidades do Brasil ultrapassaram a barreira dos "20 centavos". Finalmente, o tal do MPL trocou o pano de fundo dos atos e passou a pleitear por algo "maior", a de um transporte acessível e digno à todos. O grande problema dessa rápida expansão é que muitas outras minorias surfam na onda das passeatas para mostrar que estão "ao lado da população".

Da mesma maneira que fiquei puto com a PM descendo a borracha de forma gratuita lá na Maria Antônia, fiquei ao ver as bandeiras de dois partidos cacarecos (PSOL e PSTU) que apenas usurpam o dinheiro do Fundo Partidário, mantido pelo contribuinte, e um político caricato como o Plínio querendo 15 minutos de fama. Posso muito estar errado, mas duvido que o tiozinho estava presente na hora em que os fardados atacaram as pessoas que participavam do manifesto. Pior ainda: lá na Praça Ramos, o tal de Plínio foi aplaudido. Temo que o protesto social, legítimo e justo, se torne mais um alicerce político, e os milhares que se expuseram à borracha sejam feitos de trouxas, como geralmente ocorre em nosso país.

Posto isso, vamos à questão da Polícia. Ao ver da redação, e com a ajuda das redes sociais, o começo do conflito desta quinta-feira não tive nenhuma surpresa. Na concepção do Governo, o policial, na prática, está lá para fechar os olhos e acabar com qualquer manifestação - pacífica ou não; e para isso, usa o que ele tem nas mãos. Talvez, muitos dos que estavam no cruzamento da Consolação com a Maria Antônia nunca tinham percebido que o policial gosta de se sentir o guardião da ordem plena. Provavelmente, jamais perceberam que o sujeito que está do lado do governo usa da farda um mecanismo de intimidação contra o civil.

Creio que a maioria da população das classes B e C - público marjoritário das passeatas - conheceu a real polícia que o estado oferece. É muito mais fácil o pelotão chegar e descer o cassetete na multidão, do que proteger o cidadão e pegar os bandidos que cometem crimes cada vez mais bárbaros, como tacar fogo em dentistas ou atirar em uma mulher grávida. A falta de senso policial se consumou quando um jornalista foi preso pois tinha uma garrafa de vinagre na mochila.

O que a PM fez hoje no centro é feito há décadas nas periferias das cidades. Grupos de extermínio, compostos por policiais, aos montes existem e saem numa matança sem freio. Se está na rua é vagabundo. E isso é o que foi pensado daqueles que estavam naquele cruzamento. Bombas para todos os lados. Foda-se quem está lá. E o melhor foi bloquear a Avenida Paulista impedindo que a mesma fosse interditada pela passeata. Não acredito em má intensão dos agentes, eles são é mal preparados mesmo. Não sabem lidar com público. E é daí para pior. Há ainda os covardes, que puxam o gatilho e somem. Daí explica-se o fato de dois repórteres da Folha terem tomado um tiro no olho, no exercício da profissão.


A rápida investigação prometida pelo sr. secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, vai ficar, creio eu, só na teoria. Foi isso que ocorreu no caso da chacina no Jardim Rosana, em janeiro, no caso do servente, em outubro, no caso do empresário morto por um soldado da Força Tática, entre tantos outros. Como disse um amigo meu, o policial - ao vestir a farda e calçar a bota - esquece que é tão cidadão quanto o sujeito que está cansado de usufruir de sistemas públicos ineficientes.