terça-feira, 28 de maio de 2013

O perigo da "elitização" do futebol

Ao terminar de ler o jornal ontem, uma nota de rodapé do caderno de esportes do Estadão me chamou a atenção. A arrecadação da partida entre Santos x Flamengo, em Brasília, foi a maior da história do futebol no país. Mais de R$ 6 milhões foram arrecadados. Uma bela grana, diga-se de passagem. No mesmo periódico, li que o Mané Garrincha, palco da peleja, não havia sido aprovado no evento-teste para a Copa das Confederações. Até aí nenhuma surpresa.

Depois da leitura, liguei a TV. Por coincidência, a Sportv mostrara as dificuldades pelas quais boa parte dos 63 mil pagantes passaram para ver um jogo de futebol. É catraca que não funciona, revista que é mal feita, filas em banheiros, bares e outras áreas comuns. Sabendo que eles estavam falando de um estádio no Brasil, também meio que ignorei o fato.

O que não engoli foi a informação de que o ingresso mais barato custava R$ 160,00 - daí, a cifra astronômica citada no parágrafo inicial. E ao comentar esse preço abusivo, Xico Sá - colunista da Folha de S.Paulo - foi preciso em seu comentário: "ergueram as arenas e estão cobrando preço de ópera. E é futebol". O mais caro era vendido a 460 mangos.

Esse é o meu maior receio em relação à Copa: A drástica elevação no valor das entradas. Já temos ciência de que a Copa não é para pobre. Porém, um jogo nacional, do dia-a-dia, não pode ter o ingresso mais acessível a R$ 160,00. Em um país onde o salário mínimo é R$ 678,00, o tíquete mais popular não pode ser comercializado a esse preço.

O futebol não pode passar por esse processo de "elitização". O esporte, que sempre foi caracterizado pela alcunha de popular, não pode perder essa que a sua principal característica. É claro, que passou do tempo de termos estádios mais modernos, onde o sujeito possa levar sua família com tranquilidade e conforto. Porém, a maioria do público que frequenta campos de futebol, está no seio menos abastado da população, mesmo com a ascenção de uma significativa parcela da sociedade a melhores condições de renda na última década.

Claro que o sujeito que está no topo - ou mais acima - da esfera econômica tem o direito de usufruir de mais benesses nos estádios. E os clubes devem oferecer isso (cadeiras cativas, camarotes e outros espaços). Isso já é feito em boa parte dos países da Europa. Mas ainda há o "espaço" do torcedor popular, aquele que liga a TV todo o dia para ver as novidades do time, que compra o pôster quando ganha um caneco ou o que de tempos em tempos compra uma camisa ou outro produto licenciado pela agremiação. E esse é o torcedor que dá a graça no estádio, que leva a bandeira, que faz o mosaico na arquibancada.

Em suma, a "elitização" deve ser mandada para escanteio do futebol. E se voltar, mesmo assim, deverá levar um cartão vermelho "pelo peito", como dizem lá na várzea.

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