Às 12h45 do dia de 18 de junho deste ano meu telefone tocou. Meu editor me liga e pede para que eu acompanhe o 6º protesto contra o aumento da tarifa do transporte em SP (se bem que nesta altura do campeonato os atos não ocorrem apenas pelos R$ 0,20). De imediato, achei que iria apenas observar, o famoso "ir lá pra ver como é que é", e aceitei a orientação. Às 15h cheguei na redação do BandNews e já fui bombardeado de instruções. A 1ª foi: assim que você chegar, procura o link da Band, você vai entrar conosco.
Tomei um susto, mas não deixei transparecer que estava assustado. Quando me disseram que eu ia para a Praça da Sé, era para que eu fizesse parte da cobertura que o canal preparou. Eu seria o repórter no local, ou "in loco", como chamamos no jornalismo. Ouvi mais umas dicas e aquele famoso "cuidado lá hein?"
Pausa.
Como tenho tanta coisa a escrever, vou dividir os fatos por tópicos, que não seguem a ordem cronológica dos acontecimentos.
- A passeata
Nunca presenciei um ato desses e quando cheguei na Avenida Paulista e a vi tomada de gente tive que conter as lágrimas, pois estava "no ar" pelo BandNews. Já precisei percorrer a via por diversas vezes, mas ao vê-la ocupada de pessoas tive a prazerosa sensação de estar presente num momento histórico para o Brasil. Pessoas cantando, protestando, pulando, sorrindo em prol de um país melhor. Jovens, adultos, idosos, homens, mulheres, negros, brancos, nipônicos, hispânicos num clima de paz e tranquilidade.
Das marchas que acompanhei na terça-feira não vi nenhum ato de vandalismo. Posteriormente, consegui acesso aos jornais e à internet e observei atos isolados de vandalismo. Porém, digo de forma enfática: as pessoas que cometeram esses atos NÃO estavam com o objetivo de lutar por um Brasil melhor, e sim de propagar a desordem e a arruaça pelas ruas do centro de São Paulo.
- Viaduto do Chá
Os protestos são compostos por diversos movimentos. Além do MPL, que é o pilar dos atos, exitem outras minorias que estão presentes. Consegui observar bandeiras de diversos grupos, desde entidades estudantis à sindicatos. Uma ala é a dos anarquistas radicais. O grupo é chamado de "Black Blocks". Geralmente, estão vestidos com roupas escuras e o rostos estão cobertos com máscaras ou panos. Aproximadamente 50 pessoas formavam o coletivo, que aproveitou a ausência de um policiamento na frente da prefeitura para tentar invadir a sede do governo municipal. Essas pessoas são as mesmas que forçaram a derribada do portão do Palácio dos Bandeirantes, na segunda-feira.
Quando cinco caras desse grupo tentaram atear fogo na bandeira municipal, houve uma divisão de reações. Muitos aplaudiam. Outros tantos vaiaram de forma ostensiva e começaram a gritar "sem vadalismo". No fim, as bandeiras da Cidade e do Estado foram derrubadas, após o cabo de aço que as prendia no mastro ser cortado. À poucos metros de onde eu estava, pude observar duas pessoas discutindo de forma áspera sobre o que ocorria. Antes que alguém pergunte, quando o carro da Record foi incendiado eu não estava mais lá.
- Consolação
O mais legal que vi ao acompanhar uma parte dos ativistas que subiam a Consolação, para chegar na Paulista, foi que muitas pessoas saudavam a manifestação nas sacadas dos apartamentos ao longo da rua. De imediato aquela multidão agradecia com palmas e cantando. Até alguns clientes que estavam no restaurante Sujinho pararam suas refeições e foram para a calçada aplaudir aqueles que gritavam palavras de ordem. Lençóis brancos e bandeiras do Brasil também eram agitadas nos apartamentos, compondo o clima cívico do ato.
- Momento "Usain Bolt"
19h. Como a manifestação se dividiu em diversos em grupos, decidi acompanhar um que seguiu pelo centro da cidade, passando pelo Largo São Francisco, Rua Libero Badaró, Viaduto do Chá, Rua Direita e retornou à Praça da Sé. De lá, essa parte se encontrou com mais manifestantes e seguiram ao terminal Pq Dom Pedro II e iriam acessar a Avenida Rangel Pestana. No cruzamento dessas duas vias estava conversando com o Nelson Gomes, ao vivo, relatando o que via na região do "Baixo Centro". Ele me interrompeu e começou a narrar a tentativa de invasão ao prédio da Prefeitura. Segui na linha. Depois de um tempo, voltei a falar com a Priscila e com o JP Duarte, que estavam coordenando as minhas entradas. Perguntei se queriam que eu fosse para o Viaduto do Chá, de novo. Disseram que sim, e eu fui.
A pé, uma pessoa leva uns 20 minutos de um local ao outro. Como sabia que não tinha esse tempo, fiz o percurso em 8 minutos. Já sentia um cansaço pois estava andando à duas horas sem parar. Quando cheguei na Prefeitura a primeira coisa que fiz foi tomar um fôlego. Neste momento, pude comprovar que meu preparo físico está aquém do normal.
- Vandalismo
Durante o meu trabalho não presenciei atos de vandalismo, exceto às depredações na sede do governo municipal.
- Orgulho
O derradeiro, mas não menos importante aspecto do meu trabalho, é a satisfação de ter feito, ou tentado fazer, o meu melhor. Contei com a ajuda e com os conselhos de colegas e amigos, e tive sorte da bateria do meu celular ter durado durante as seis horas de caminhada pelo centro desta metrópole equivocada. E agradeço a confiança depositada em mim, numa cobertura de um acontecimento tão grande, que certamente estará nos livros de História das próximas gerações de estudantes. Obrigado.